sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Onde Estão os Profetas? por Harold Walker


Onde Estão os Profetas? por Harold Walker
Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram freqüentes (1 Sm 3.1)
Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar e do Norte até o Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do Senhor, e não a acharão (Am 8.11,12).
Não vemos mais as nossas insígnias, não há mais profeta; nem há entre nós alguém que saiba até quando isto durará. Até quando, ó Deus, o adversário afrontará? (Sl 74.9,10).
Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? (Is 6.8).
Vivemos dias confusos. Por um lado, a igreja está eufórica em muitas regiões do mundo devido às altas taxas de crescimento numérico e ainda encontra-se sob os efeitos do maior derramamento do Espírito Santo na história, ocorrido durante o século passado. Por outro lado, em toda parte o povo de Deus anda confuso, insatisfeito, faminto. Apesar das visões serem freqüentes, a palavra do Senhor é mui rara.
Em qualquer ambiente evangélico – seja encontros, conferências, seminários, programas de televisão ou rádio, revistas, livros ou igrejas – o barulho das opiniões e modismos discordantes é ensurdecedor. Um grita de cá: "Achei a resposta, a solução!" e outro responde de lá: "Não está certo, isto é heresia. Sou eu que tenho a resposta adequada!" No meio desta verdadeira Babel de vozes estridentes e convencidas, onde está a voz do Senhor? Onde está o som certo da trombeta que unirá o povo de Deus em um só exército disciplinado e convicto do seu objetivo?
Durante a história houve épocas em que Deus não queria falar, pois o seu plano estava passando por fases quando não faria sentido o que ele tinha para dizer. Exemplos: O período de mais de quatrocentos anos entre o fim de Gênesis e o início de Êxodo, quando o povo de Israel estava se multiplicando no Egito; e o período interbíblico, também de uns quatrocentos anos, entre Malaquias e Mateus.
Não podemos, entretanto, alegar este motivo para o silêncio profético de hoje, pois vivemos os últimos dias antes da volta de Jesus, quando o ministério profético deve atingir seu auge. Assim como foi impossível chegar-se a Jesus na Primeira Vinda sem passar pela personagem rude e ameaçadora de João Batista, é impossível achar referências à Segunda Vinda sem encontrar uma forte ênfase na restauração do ministério profético (Ml 3.1-3; 4.5,6; Mt 17.11; At 3.21; Ap 11.3-13).
Silêncio Profético
Estou plenamente consciente de que muitos não concordarão de que haja um silêncio profético hoje, portanto quero apresentar aqui algumas razões desta minha convicção:
1 – O ministério primordial do profeta é chamar o povo de Deus de volta à lei de Deus, à santidade de Deus. Ao contrário do que muitos pensam hoje, a graça de Jesus Cristo não veio para abolir a lei mas, sim, para cumpri-la (Mt 5.17; Rm 3.31). A primeira palavra do evangelho é "Arrependei-vos!" Infelizmente, a vasta maioria dos membros de igrejas evangélicas hoje nem sabem o que significa isto! O evangelho que é pregado hoje não focaliza o pecado, a ira de Deus contra o pecado e a necessidade de santidade para encontrar-se com o Deus vivo. As pessoas não entram na igreja confessando seus pecados publicamente, entendendo o quanto seu estilo de vida é abominável a Deus e o quanto o ofenderam durante toda a sua vida. Por isto, não é de se admirar que o pecado anda solto dentro da igreja. Quando existe alguma ênfase sobre santidade, normalmente aparece sob a forma de algum tipo barato de legalismo que a torna inválida aos olhos de Deus e do mundo observador. Onde está a poderosa palavra do Senhor que "é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4.12)? Onde está o evangelho "profético" que leva os ouvintes até o mais profundo desespero do inferno antes de mostrar-lhes as inefáveis dimensões do amor de Deus demonstrado na cruz do Calvário?
2 – O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal contaminou a humanidade desde os dias do Éden, mas hoje está chegando ao ponto de saturação, até mesmo dentro da igreja. O racionalismo, o relativismo, a ética situacional, a psicologia moderna e o humanismo têm envenenado nossas famílias, escolas, seminários, igrejas e sociedade. Ninguém tem coragem de dizer: "Isto é errado e ponto final". Estamos imersos num caldo grosso e morno de "talvez", "pode ser", "eu acho" e "por um lado... mas por outro lado". Ninguém diz: "Assim diz o Senhor!" e se diz, normalmente é alguém que não esteve no concílio do Senhor e não está autorizado por ele a falar. Cambaleamos como igreja entre os extremos do legalismo e da libertinagem e não há uma clara e convincente voz profética que traga convicção de pecado, arrependimento e correspondência viva a Deus num andar diário de santidade e alegria no Espírito.
3 – Uma das características mais marcantes de uma genuína palavra do Senhor é que traz unanimidade àqueles que têm corações sinceros diante de Deus. Nos dias de Samuel, mesmo enquanto ele ainda era menino, "todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor" (1 Sm 3.20). Por quê? Porque "o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra" (1 Sm 3.19). Hoje temos muitos preciosos servos do Senhor que trazem palavras sólidas e confiáveis, mas falta-lhes este aval de Deus, esta assinatura conclusiva, esta autenticação genuína. O resultado é que cada grupo ou igreja só ouve sua própria seleção de fontes confiáveis e o povo de Deus continua confuso e dividido. Onde está a palavra profética de nossos dias que encontrará ressonância nos corações de todos aqueles que são sinceros diante de Deus, independente de suas origens eclesiásticas ou tendências teológicas? É claro que todo profeta do Senhor encontrará forte resistência e até perseguição no meio do próprio povo de Deus, mas sempre haverá uma certa confirmação e unanimidade nos corações de todos aqueles que realmente buscam ao Senhor. O que causa estranheza é que ninguém pára para observar isto, para cair de joelhos diante do Senhor e procurar a causa desta falta de confirmação e autenticação divina.
4 – Deus tem opiniões bem fortes e claras sobre os acontecimentos mundiais, em todos os níveis, e sempre usou os profetas para expressá-las. (Veja as profecias de Isaías, Ezequiel, Jeremias e dos outros profetas acerca dos reinos do mundo de sua época: Egito, Tiro, Assíria e Babilônia). Certamente, hoje, à medida que a humanidade caminha velozmente para a consumação da história, Deus tem coisas para dizer às nações e aos seus governos. Entretanto, hoje, quando servos do Senhor começam a pontificar sobre os acontecimentos atuais, vemos muita confusão e engano. Muitas vezes, as influências culturais e nacionais entram mais na composição destas supostas "palavras proféticas" do que qualquer verdadeira inspiração do Espírito Santo. De fato, Deus quer usar sua igreja para falar não só aos governos deste mundo, mas também aos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.10; 6.12). Porém, antes que isto possa acontecer, o juízo precisa começar pela casa de Deus (Ez 9.6;1 Pe 4.17). Os "profetas" de hoje estão pulando esta etapa vital e, por isto, suas palavras não são confirmadas por Deus. Antes de sermos porta-vozes de Deus para o mundo, precisamos passar pelo fogo purificador de Deus como igreja. Não temos direito de dirigir palavras fortes de Deus para o mundo sem primeiro passarmos, nós mesmos, pelo juízo destas palavras.
Portanto, por estes e por outros motivos, creio que estamos atravessando um período de silêncio profético e isto me incomoda. Não é hora para isto. Deus quer falar, mas onde estão seus porta-vozes? Não adianta clamar como Eliseu: "Onde está o Senhor, Deus de Elias?" (2 Rs 2.14). Acho que seria mais apropriado gritar: "Onde estão os Elias do Senhor Deus?"!
Quem se candidata para esta vocação hoje? Quem quer dizer como Isaías: "Eis-me aqui, envia-me a mim"? (Is 6.8) Quem quer chegar-se ao anjo, como o apóstolo João, e tomar o livrinho da sua mão e comê-lo e ficar com o estômago amargo? (Ap 10.8-11) Quem quer assumir esta vocação de tempo integral e ser consumido pelas dores e paixões do próprio Deus?
A Palavra Profética no Contexto do Corpo
Além de encontrar candidatos, porém, há outro fator indispensável para a manifestação da palavra profética genuína em nossos dias. Se estamos esperando o surgimento de profetas no estilo do Velho Testamento que chegam dizendo: "Assim diz o Senhor" e depois se recolhem ao deserto para ouvir de Deus sozinhos, certamente seremos desapontados ou até enganados por falsos profetas. Quem pensa que a palavra de Deus hoje virá em forma de profecias que não podem ser julgadas, ou de pregações que não podem ser questionadas, ou de qualquer outra forma exclusivamente mística e sobrenatural, está se abrindo para enganos e perigos. Precisamos entender que hoje Deus fala na sua casa, na igreja, no contexto coletivo do seu Corpo.
A vinda de Elias hoje será diferente da vinda de João Batista. O ministério profético dos últimos dias agirá de forma diferente dos profetas que vieram antes da primeira vinda de Jesus. Antigamente, Deus falava aos pais pelos profetas; hoje nos fala pelo Filho (Hb 1.1,2). Mas como ele nos fala pelo Filho? Através da atuação do Espírito no contexto do Corpo. Jesus disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles" (Mt 18.20). E também disse: "Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28.20).
A palavra profética que restaurará a lei de Deus e o governo de Deus nas famílias e nas igrejas, a santificação em nossas vidas e o juízo de Deus sobre o mundo não virá de super-homens ou indivíduos isolados, mas do meio de pessoas que estão experimentando a comunhão do Espírito e alinhando suas vidas com a palavra que está surgindo neste contexto. Esta realidade viva de Jesus falar no meio de dois ou três no contexto de comunhão foi perdida durante a apostasia da igreja (juntamente com muitas outras verdades preciosas que a igreja em Atos experimentava). Muita coisa já foi restaurada, mas esta essência da igreja que vai ativar a palavra profética para os nossos dias ainda permanece encoberta.
Infelizmente, a última etapa de restauração, que deveria ter contribuído para isto mais do que todas as outras anteriores, acabou tornando-se em um dos maiores obstáculos! Refiro-me à restauração do batismo e dons do Espírito Santo que ocorreu no século passado e que deu origem aos movimentos Pentecostal e Carismático. O Espírito Santo é a base desta koinonia ou comunhão do Espírito entre dois ou três. Mas, ao invés de permitir que ele faça isto entre nós, ficamos envaidecidos com o poder e o impacto do exercício dos dons e usamos a unção do Espírito para construir "reinos" humanos, divididos uns dos outros. Além disto, temos nos apropriado indevidamente da glória que pertence só a Deus, assumindo títulos e posições eclesiásticas que tornam cada vez mais difícil alcançar a verdadeira unidade e comunhão no Espírito.
Torna-se necessária, então, uma palavra profética para despertar a igreja atual da sua sonolência e comodismo religioso. O fermento de orgulho e vaidade humanos precisa ser revelado e sua nojeira exposta para que a igreja se enxergue como Deus a enxerga. Isto fará com que sinta sua pobreza e miséria espirituais e clame ao Senhor pela restauração da essência da igreja, que é a comunhão verdadeira; pois é justamente ali que o Senhor começará novamente a falar e a se expressar na terra.
Praticando o Vertical e o Horizontal na Busca da Palavra Profética
Portanto, se quisermos participar do ministério profético prometido por Deus para os últimos dias, precisamos não só colocar nossas vidas à inteira disposição de Deus, para encarnarmos seus sonhos e planos, mas também procurar outros irmãos com o mesmo chamamento, com os quais possamos conferir, nos abrir, e desenvolver esta afinidade no Espírito, para que, assim, Deus tenha espaço para nos falar numa base coletiva. Feito isto, ainda não é o bastante!
À medida que ouvimos de Deus em conjunto e, em seguida, praticamos e anunciamos o que ouvimos, precisamos entrar em sintonia com o que Deus está falando com outros conjuntos de irmãos em outros lugares. Se é um só General que está falando, a prova de que realmente estamos recebendo nossas instruções dele, e não de nossas próprias imaginações enganosas, é que começaremos a andar em sintonia com todos os outros pelotões e unidades do mesmo exército. Ele certamente dará instruções distintas para cada unidade, dependendo da sua função e localização estratégicas, mas o objetivo central será o mesmo, nossas ações complementarão umas às outras e não serão mutuamente exclusivas ou destrutivas. "Fogo amigo" só acontece quando há uma falha nas comunicações.
Conclusão
Estamos vivendo em tempos quando está para acontecer a maior manifestação profética de toda a história. Tudo que Deus falou pela boca dos seus profetas desde o princípio exige uma confirmação e consumação antes que Jesus volte. Convém que os céus o retenham até que isto aconteça (At 3.21).
Entretanto, vivemos um profundo silêncio profético. Há muitas visões, revelações e supostas palavras proféticas, mas os frutos de uma verdadeira palavra profética estão faltando. Não há um som certo no toque da trombeta e ninguém está se preparando para a batalha de forma adequada. A casa de Deus está muito contaminada e precisando urgentemente do fogo do juízo de Deus.
Podemos concluir, portanto, que a hora agora é de chorar e gemer pela situação da igreja e clamar a Deus para acelerar a preparação dos seus profetas e liberar uma palavra profética genuína e poderosa para os nossos dias. Também devemos convocar outros para fazer o mesmo. Se este clamor começar, espalhar-se e se tornar cada vez mais forte e insistente, o Senhor se revelará a nós, nos convidará a entrar em seu concílio e ouvir da sua boca a palavra, e nos passará pelo fogo da sua presença para nos purificar de toda impureza. Isto não acontecerá somente num nível individual, mas no contexto coletivo. Somente então, ele nos autorizará a sair para a igreja e o mundo com uma palavra que realmente expressa o seu coração e desejos para este tremendo final da história do mundo!
Postado por: Robson dos Santos

O Que Significa "Profético"? por Christopher Walker

Assim como acontece com tantos outros termos do nosso "jargão" bíblico ou cristão, a palavra profético perdeu grande parte do seu significado. Embora nem sempre nos séculos passados da história cristã esta palavra foi muito usada, e apesar de não ser comum em alguns setores da igreja até hoje, em muitos círculos vem sendo usada de forma cada vez mais freqüente, a ponto de virar uma espécie de modismo.
Um nível muito maior de unção profética realmente é uma das promessas de Deus para seu povo nos últimos dias (At 2.17). Porém, antes de concluirmos que a igreja já está experimentando o pleno cumprimento desta promessa na nossa geração, é importante examinar as Escrituras para entender o verdadeiro sentido da palavra. Assim como não é o uso constante dos termos fé, graça, ou poder que prova que temos estes elementos funcionando em nossas vidas ou igrejas, não serão as expressões adoração profética, conferência profética, ou ministério profético que darão este caráter às nossas atividades.
O Significado da Palavra
O termo mais antigo, no hebraico do Velho Testamento, para profeta é roeh, que quer dizer vidente. É uma palavra usada também para visão profética. Uma outra palavra, que surgiu depois, é nabi’, aquele que fala, um porta-voz. Nabi’ vem de uma raiz que significa levantar-se, vir à luz ou inchar-se. É relacionada com a palavra para um ribeiro borbulhante e com o verbo jorrar, com o sentido de proferir abundantes sons ou palavras (Pv 18.4).
Esta idéia pode ter um sentido passivo, como de alguém que se faz borbulhar pelo Espírito de Deus, que é inspirado por ele. O sentido mais correto, porém, é ativo e contínuo: alguém que jorra as palavras de Deus, um divulgador divinamente inspirado, um anunciador ou porta-voz (Êx 7.1).
Portanto, há um aspecto anterior, passivo e receptivo no profeta: ele vê. E há um aspecto ativo e comunicativo: ele fala. Antes de poder funcionar como boca ou comunicador, ele precisa receber revelação, percepção e visão; precisa "borbulhar" com os propósitos e sentimentos do coração de Deus.
"Então disse eu: Não me lembrarei dele, e não falarei mais no seu nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer e não posso" (Jr 20.9; ver também Jr 6.11).
"Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de força, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado" (Mq 3.8).
Visão Espiritual
A primeira característica, então, do profético é sua capacidade de ver numa outra dimensão, de enxergar no mundo espiritual aquilo que a grande maioria não consegue vislumbrar. No Velho Testamento, este era um privilégio de poucos escolhidos. Raramente, Deus tinha no meio do seu povo mais do que um ou dois servos, numa mesma época, que podiam ver e ouvir além do mundo visível e material. Por isto, eram muito requisitados e, se alguém queria saber o que Deus pensava ou diria sobre um determinado assunto, era necessário ir atrás destas pessoas.
Veja o que Balaão disse acerca de suas capacidades proféticas, nem sempre utilizadas a serviço de Deus: "Palavra do homem de olhos abertos; palavra daquele que ouve os ditos de Deus, o que tem a visão do Todo-poderoso..." (Nm 24.3,4).
No Novo Testamento, porém, esta visão espiritual potencialmente passaria a todos os cristãos. "Porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior" (Hb 8.11). "E vós possuis unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento" (1 Jo 2.20). "Derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão... Até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito... e profetizarão" (At 2.17.18). "Porque todos podereis profetizar..." (1 Co 14.31).
Na prática, sabemos que a Nova Aliança e o derramamento do Espírito ainda não trouxeram este nível de conhecimento de Deus a todo o povo do Senhor. A grande maioria do povo de Deus e, infelizmente, até dos líderes, não tem estes olhos e ouvidos abertos para saber o que o Senhor está falando ou para onde está querendo nos conduzir dentro do seu plano. Assim, ainda dependemos, em grande parte, da promessa de que Deus não fará coisa alguma sem revelar seu segredo aos seus amigos, os profetas (Am 3.7). Ele também prometeu a Isaías que jamais retiraria da linhagem profética, no meio do seu povo, a unção de falar as suas palavras, para sempre. Até que se cumpra a promessa de fazer todo o seu povo andar cheio do Espírito e conhecer os tesouros do mundo invisível (1 Co 2.9-16), Deus prometeu que sempre encontrará alguém a quem possa revelar o seu conselho secreto.
Ter os olhos e os ouvidos abertos para o mundo espiritual não é só uma questão de ter algumas experiências deslumbrantes de forma isolada ou esporádica. A revelação, em todas as suas variadas manifestações, vem realmente através de uma "porta aberta no céu" (Ap 4.1), e isto depende não só da nossa disponibilidade, mas da vontade soberana de Deus. Ninguém tem estas experiências de forma ininterrupta. Porém, a característica profética, de ter o véu retirado para ver as coisas da perspectiva de Deus, vai muito além disto. É resultado de andar com Deus, de ter uma vida dedicada a conhecê-lo e de descobrir, progressivamente, o que ele realmente deseja falar e fazer com seu povo.
Portanto, a primeira prova para testar a qualidade profética de alguma mensagem, atividade ou ação é saber se provém de uma visão espiritual e de um genuíno contato com Deus, ou se é apenas cópia de algo que foi rotulado profético.
Proclamação
Depois que o mundo espiritual foi aberto, com certeza haverá conteúdo para proclamar. A essência do ministério profético é anunciar o que se viu, tendo em vista que poucos tiveram o mesmo acesso àquela dimensão. O profeta é um atalaia, posicionado numa torre de onde consegue ver muito além daquilo que a multidão enxerga. Por isto, precisa alertar, advertir e preparar o povo para aquilo que virá (Is 21.6,11; Ez 3.17). Hoje, esta função ainda precisa ser exercida em favor da própria igreja, já que poucos tiveram seus olhos abertos; no plano de Deus para a nova aliança, porém, seu povo, como um todo, deveria proclamar a vontade e o coração de Deus para o mundo (1 Pe 2.9).
Como a visão profética é a capacidade de ver as coisas da perspectiva de Deus e enxergar a situação como deveria ser, no seu ideal ou padrão perfeito, a proclamação sempre mostra o contraste com a situação atual, imperfeita e errada. Por isto, se alguém fizesse uma estatística, em termos de quantidade, de todas as palavras proféticas na Bíblia, a esmagadora maioria não teria relação alguma com previsão do futuro e, sim, com a exposição do pecado do povo de Deus e com o severo juízo que viria no caso de não abandoná-lo. Pode não parecer assim, mas é preciso ter os olhos abertos, é preciso ter visão espiritual, para enxergar a contaminação e a influência do espírito deste mundo na nossa vida e na vida da igreja.
Por este motivo, a proclamação profética, no geral, era muito impopular. Mostrava como o povo e os líderes estavam errando o alvo, vivendo fora dos propósitos de Deus, cumprindo as ordenanças exteriores, porém afastando-se dele no coração. O rei Acabe, por exemplo, não suportava o profeta Micaías: "Eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau" (1 Rs 22.8).
A proclamação "profética" que diz apenas o que as pessoas querem ouvir pode ser muito popular, mas apressa ainda mais o juízo e a destruição do povo de Deus. Nas palavras de Jeremias: "Os teus profetas te anunciaram visões falsas e absurdas, e não manifestaram a tua maldade, para restaurarem a tua sorte; mas te anunciaram visões de sentenças falsas, que te levaram para o cativeiro" (Lm 2.14). Ezequiel também falou das terríveis conseqüências de dar ouvidos a proclamações de paz e prosperidade, quando não vêm da boca do Senhor: "Os teus profetas, ó Israel, são como raposas entre as ruínas. Não subistes às brechas, nem fizestes muros para a casa de Israel, para que ela permaneça firme na peleja no dia do Senhor" (Ez 13.4,5).
O objetivo da proclamação é abrir os olhos e os ouvidos dos ouvintes para que a luz de Deus alcance seus corações e o véu que está diante deles seja removido (2 Co 3.16; 4.3-6). Sem a operação desta luz sobrenatural, continuamos sem enxergar nossa impureza e nossos alvos centrados em nós mesmos, e caminhamos firmes em direção à ruína.
Assim, um segundo teste para aquilo que é chamado profético é verificar os resultados, para saber se houve alguma luz divina, no sentido de revelar pecados e desvios dos alvos de Deus, ou de desfazer o véu natural da nossa mentalidade humana.
Destino e Propósito
"Já não vemos os nossos sinais; já não há profeta; nem, entre nós, quem saiba até quando" (Sl 74.9).
O resultado final, e mais importante, de qualquer ação ou ministério profético é trazer uma revelação mais ampla do propósito eterno de Deus. Qualquer revelação de um acontecimento futuro só é relevante na proporção em que se relaciona com o plano maior do reino de Deus. O exemplo clássico é dos discípulos dos profetas em 2 Reis 2, que tinham revelação de um acontecimento futuro (o arrebatamento de Elias), porém, eram totalmente ignorantes do que isto significava para a continuação dos propósitos de Deus. Chegaram ao absurdo de procurar Elias pelos montes, caso o Espírito o tivesse jogado em algum lugar, depois de arrebatá-lo. Ter percepção de acontecimentos futuros, sem conhecer a natureza de Deus, é extremamente perigoso!
Já a revelação a Isaías quanto ao futuro imperador da Pérsia (Is 45.1) e a previsão exata feita por Jeremias a respeito dos setenta anos do cativeiro (Jr 25.11; 29.10) tinham importância fundamental na seqüência dos acontecimentos proféticos, ou seja, do desenvolvimento do plano de Deus com seu povo na terra.
Podemos dizer, então, que a essência do profético é entrar no mundo espiritual, ver e ouvir o que está acontecendo lá, e trazer esta visão para a dimensão material do mundo em que vivemos. E a essência do que se vê no mundo espiritual é a natureza e o coração de Deus e o seu tremendo e inimaginável plano aqui na terra.
A natureza desta visão espiritual explica as duas principais ênfases proféticas. Ao contemplar a beleza e a profundidade do plano de Deus e sentir seu coração de amor para com o povo que escolheu para fazer parte deste plano, o profeta anuncia a glória, a consumação e a esperança por vir – ou, em outras palavras, define e descreve o nosso destino. Mesmo nos momentos mais escuros da história de Israel, os profetas anunciavam a restauração e o triunfo final. Descreviam, também, a natureza de Deus, seus sentimentos, sua fidelidade, sua capacidade de tirar proveito e glória de qualquer situação de fracasso humano. Mostravam como Deus tinha a solução de todas as soluções, através da vinda do Messias e do "dia do Senhor", através dos quais ele havia de triunfar sobre todos os obstáculos.
Este era um aspecto essencial da visão profética, pois trazia esperança e um senso de propósito. Nada pode ser considerado profético se não trouxer uma visão sobrenatural de destino, consumação e esperança, sem a qual "o povo se corrompe" (Pv 29.18), pois não sabe para onde vai e não tem uma causa a que se pode entregar. Não é apenas um alvo vago e distante, como ir um dia morar no céu; é algo que faz parte de um todo glorioso, que pouco a pouco passamos a compreender, à medida que a visão profética nos ajuda a completar peças no divino quebra-cabeças.
Mas não conseguiríamos nos ligar a esta visão do glorioso alvo futuro se não houvesse um segundo aspecto da ênfase profética, que falasse para dentro da nossa situação atual. Por isto, conforme já notamos, a maioria dos pronunciamentos proféticos tem a ver, não com o futuro, mas com a lastimosa e imperfeita situação presente.
Porém, mesmo para falar sobre nossa condição e posição atual, é necessário ter uma revelação do plano de Deus, de uma forma mais global e panorâmica. Não se pode aplicar as percepções do mundo espiritual à nossa situação hoje, sem compreender a história e o desenvolvimento do plano divino até o presente momento. Precisamos, como diz Rick Joyner, nos localizar no mapa de Deus. E como, sem visão profética, geralmente estamos tão longe do lugar onde deveríamos estar, de acordo com o mapa, a proclamação profética vem para mostrar como estamos errando o alvo e frustrando o progresso do plano de Deus.
Portanto, a proclamação profética que aponta o pecado do povo de Deus e que tem uma ação negativa de repreensão ou disciplina é mais do que uma capacidade de ver certos aspectos de impureza ou contaminação na igreja ou nas vidas individuais. É certo que quem teve uma visão da santidade de Deus sentirá profundamente sua própria impureza e a do povo no meio do qual vive (Is 6. 5). Mas a qualidade peculiar do profético é entender o que Deus vem fazendo desde o início do seu plano, para onde ele pretende conduzir-nos no futuro e em que posição e atitude deveríamos estar agora. É a verdadeira ligação do presente, tanto ao passado como ao futuro.
Esta dimensão do senso de história e do senso de destino é a falta mais gritante na grande maioria da igreja hoje. É também a maior prova de que o verdadeiro ministério profético ainda não foi restaurado.
O maior pecado da igreja não é sua contaminação com obras da carne, embora estas sejam realmente abomináveis diante de Deus. No Velho Testamento, a nação de Israel recebeu os dez mandamentos e quebrava-os constantemente. Porém, Deus não mandou os profetas para falar principalmente sobre este tipo de transgressão. Não porque não tivesse muita importância, mas porque havia algo muito mais fundamental – o coração do povo estava frio e distante, tinham outros interesses mais importantes e não queriam ouvir de Deus ou conhecer o seu propósito para suas vidas ou nação.
"Não havendo profecia o povo se corrompe" (Pv 29.18). Sem conhecer o alvo de Deus, vivemos sem propósito, sem rumo, e nos abrimos para toda espécie de corrupção. É uma contradição total buscar uma vida de pureza e santidade e continuar vivendo para nossos próprios alvos. É duro quando a palavra de Deus destrói nossos sonhos e projetos particulares. Mas é incomparavelmente melhor viver em função dos alvos de Deus.
Uma verdadeira atuação do ministério profético aplicará o machado à raiz de muitas árvores humanas, a fim de poder implantar um novo senso de destino e restaurar os alvos de Deus para seu povo. A promessa de Deus nas últimas palavras do Velho Testamento é exatamente esta: "Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (Ml 4.5).
Precisamos aguardar e desejar a vinda deste ministério em nosso meio; sua promessa se cumprirá, sem dúvida, mas não nos contentemos com nada menos que o genuíno! Postado por : Robson dos Santos.